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terça-feira, 14 de maio de 2019

José Alegório e a Cidade dos Sonhos










José Alegório de repente se vira
tendo adentrado a tal floresta além da cidade
seduzido pelo viçoso verde solar
no colorido de toda a folhagem
folhinhas que relumbravam
algumas como acrílicos de verde transparente
transpassadas pelos raios solares
a lhe exercerem irresistível sedução
irrecusável atração
Certamente resolvera desconsiderar antigos
recorrentes avisos de potenciais perigos
que sempre se houvera propalado sobre a tal floresta
que a floresta é enfeitiçada, isso e aquilo
certamente houvera superado os receios

Era um verde fascinante, inebriante, sedutor
algo mesmo hipnotizante, paradisíaco
a fazer-lhe a mente numa projeção onírica, celestial
e aves das mais deslumbrantes cores
das mais graciosas melodias em seus cantos
tornava aquele ambiente em que por hora se havia
ainda mais e mais cativante

E foi assim que nesse encantamento
qual enfeitiçado por uma floresta mágica
apercebeu-se perdidamente embrenhado nela
sem bússola ou migalhas deixadas caídas no chão
no trajeto percorrido como pista de retorno
certamente se esquecera das pedrinhas
que planejava levar nos bolsos para marcar seus passos
quando adentrasse a floresta
pois migalhas de pão ou sementes sabia
que não mais encontraria para indicar-lhe o caminho de volta
atinava-se repentinamente da imprudência cometida
de não ter-se municiado com as tais pedrinhas salvadoras
E tão longe se havia ido floresta adentro
movido por seu magnetismo envolvente

E então receava, imaginando a noite que viria
e antes que se fizesse a completa escuridão
José Alegório recostou-se em uma árvore
a qual lhe passava confiança e segurança
e ali iria passar a longuíssima noite
ou quem sabe até conseguiria dormir

E quando escureceu era mesmo ruim
lancinantes picadas de insetos lhe afligiam
porém por sorte descobriu fósforos em seu bolso
pois então fez pra si uma providencial fogueira
que espantou os insetos que lhe atacavam
mas se intensificava em si o medo de uma fera
porém a fogueira se insinuava ainda uma proteção
e lhe passou uma dúvida quanto àquela fogueira
se ela mais espantaria ou atrairia uma fera
pelo sim, pelo não ficava com a fogueira
pois com ela sentia-se mais seguro de fato
entretanto providenciou um pau de bom tamanho
no qual enrolou e amarrou na ponta o cachecol que usava
estava assim improvisada uma tocha
que acenderia na fogueira se necessário
enfrentaria qualquer fera com sua tocha de fogo
como já houvera visto em alguns filmes

E ficou ali pensando... Pensando em sua casa, em sua cama
mas mal lembrava de estar entrando na floresta
não se dava em ter esquecido das pedrinhas no bolso
que tanto planejara levar quando entrasse na floresta
elas certamente indicariam seu caminho de volta
pois dentre as muitas histórias que contavam
umas eram de pessoas que entraram e não mais voltaram
não mais foram vistas
mas pensava esperançoso no dia seguinte
que teria para procurar e encontrar uma saída

Se fazia dia claro e José Alegório agora se encontrava
seguindo na mata à procura de uma saída para sua comunidade
e seguindo assim deu numa longa trilha
que se afigurara acolhedora à sua frente
a se perfazer um caminho como uma alameda
seu coração batia esperançoso a seguir por tal vereda
que deu por fim num litoral, uma beira de mar
em cuja areia ali na praia repousava uma embarcação
A embarcação e o mar sugestionavam-lhe navegar
não iria voltar para dentro daquela floresta
quem sabe navegando encontraria um caminho
ou um grande navio que o resgatasse de volta à civilização
e então pegou aquele pequeno barco
e saiu a deslizar sobre aquelas águas
valendo-se dos pesados remos que na embarcação havia
e já houvera navegado muito mas não via costa alguma
só horizonte no mar em trezentos e sessenta graus
e já não sabia mais que rumo tomar

Perdido que estivera na floresta
agora se achava perdido no mar
mas tinha que remar, não podia parar
pra qualquer lado que fosse, mas remar
um grande navio haveria de aparecer
porém seria o fim se lhe viesse uma tempestade
um maremoto, nem era bom pensar
mas o sol brilhava forte, e José Alegório remava

E a certa altura da sua navegação
viu algo a rebrilhar no fundo d’água
era algo grandioso e parecia próximo
e obedecendo um poderoso impulso instintivo
movido por extrema curiosidade
pela qual até morreria, mas da qual não poderia furtar-se
de ver do que se tratava tal mistério ali a se vislumbrar
mergulhou na água em direção à visão
mas não era tão perto e José Alegório mergulhava
descendo mais e mais com bons movimentos
de braços e pernas ágeis e rápidos
e a coisa submersa foi crescendo à sua frente mais e mais
era uma cidade de aparência metálica e luminosa, bela
E José Alegório alcançou a cidade
de prédios suntuosos, de fantásticas arquiteturas, futurísticas
fachadas em dourados, prateados, brilhantes, multicores
suas ruas eram largas, planas ou inclinadas
mas de solo sempre perfeitamente liso
e José Alegório estava maravilhado pela cidade
a qual descobriu no fundo do mar e em que agora andava
e andando por aquela cidade que então explorava
encontrou um veículo que possuía asas como um avião
e pedais como uma bicicleta
o engenho lhe sugeria tomá-lo e movimentá-lo
e assentando-se naquele veículo
moveu com força os pedais
o que fez dar partida num motor de suave e agradável ruído
e pedalando, fez com que o veículo ganhasse altura
desde o fundo daquele fundo de mar
cruzando a linha d'água oceânica
e saiu pelo ar, por sobre o mar

Naquele engenho motorizado, alado
José Alegório ia mais e mais ganhando distância e altura
e olhando atrás de si percebeu que o veículo
puxava a reboque aquela cidade
aquela cidade que se achava mergulhada no oceano
e agora guindada pelo engenhoso veículo que pilotava
pairava no ar, no espaço, rebrilhando ao sol
recortada em contraste com o céu de um azul o mais celeste
que era como o Sol se apresentava naquele momento
a fazer tudo em cores mais vibrantes, vivas
e aquela impressionante cidade ganhava mais e mais
em admiração e deslumbramento na sua mente, no seu coração

José Alegório estava apaixonado por aquela cidade
e então resolvera sobrevoar o planeta
até encontrar o lugar ideal onde assentá-la
Teria de ser um lugar especial
teria de ser um lugar de clima agradável
um tanto próximo do mar e de rios
de montanhas e de planícies extensas
sobrevoou o planeta inteiro para escolher o melhor lugar
e enfim quando encontrou um lugar assim
e já descendo para acomodar a cidade
no lugar que encontrou tal como pensara
Justamente como imaginara
e exultava de alegria
pois já ia pousar a sua linda cidade
içada desde o fundo do oceano
para então sempre vivenciá-la
numa manobra que fez
deu de olhos diretos ao sol
e por instantes ficou cego e desencontrado
e pensou que ia se esborrachar lá em baixo com a cidade
e nesta agonia e escuridão acordou
estava ainda junto à árvore
que escolhera para velar seu sono
estava ainda perdido na floresta
a fogueira que fizera antes de dormir
era só cinzas a desprender fumaça ainda

Mas era tão vivo o sonho na sua mente
levantou-se e olhou nas redondezas ali
para ver se encontrava a trilha
por onde enveredara no sonho
dando na praia
não encontrou; era sonho; quem poderia explicar ?
José Alegório ficou ali a pensar
não se conformava de ter perdido a cidade
pela qual se apaixonara de corpo e alma
mas não adiantava se inconformar
era só um sonho; um mistério

Mas tinha que tomar um rumo
tinha o dia inteiro para tentar
sair o quanto antes da floresta
e tomou rumo e foi andando; procurando
por entre as árvores, andando
e foi andando e andando que encontrou alguém
e esse alguém tinha o olhar muito calmo e sereno
e era alguém que expressava o caminho no olhar
era alguém de cabelos e barbas bem compridos
e um semblante de velho, muito velho
mas de tez lisa, suave, macia
sorriu-lhe amistoso com satisfação
deu-lhe as costas e seguiu para
que o seguisse a alcançar a saída
José Alegório o foi seguindo
ficou feliz e aliviado de ter sido salvo
de ter encontrado o caminho
mas, que sonho... Estava a pensar
enquanto seguia o senhor pelo caminho de volta ao lar
Quando acordou em sua cama

Que incrível! Fora um sonho em outro sonho
mas que coisa mais louca, pensava
mata, mar, cidade, veículo alado, um resgatador
mas que sonho
ficou dentro do seu coração
dentro de sua mente
fez-se-lhe num impulso
de realizar a beleza
aquela beleza era como o avesso
do mal do mundo
era um bem de se desejar construir
aquela beleza, que era como luz
que apagava toda treva
em volta duma vida

José Alegório tornou-se fortemente suscetível,
impressionado com esse sonho enigmático
não lhe parecia um simples sonho
mas uma realidade que de fato houvera vivido
tão intenso se houvera fixado em sua memória
em sua lembrança; quase mesmo poderia dizer que em seu corpo
como se seu corpo físico mesmo houvesse vivido aquilo
Mas acordara em sua cama; claro que foi um sonho
mas como poderia sentir assim como sendo realidade vivida?
É... Mistério do próprio sonho
José Alegório ponderava sobre esse sonho
que de certa forma o perturbava
e como desejava ver aquela esplendorosa cidade outra vez...
E muito tempo passara assim nessa meditação
tomado pela força do acontecimento
mas o sonho tornara-se em si algo tão latente
se fazendo em si cada vez mais imperioso construir a cidade
tão firmemente entranhada em si
reproduzindo-a fielmente
como ainda estava acesa e clara na sua mente desde o sonho
então a refletiria em forma de miniatura, como uma maquete
E assim passou a construir um galpão no fundo da casa
onde seria a oficina onde trabalharia na reprodução da cidade sonhada
No centro dela instalou uma extensa mesa
de ferro que encomendara para tal fim
e passou a adquirir ferramentas e materiais,
necessários para confecção da sua obra
assim foi que supriu a oficina de martelos e bigorna
placas de metal, de ferro, de alumínio
tornos, makitas e discos de corte
maçarico, bico de solda, lixadeira, polidora
arcos de serra e serras, alicates e chaves de fenda
de todo jeito e tamanho, limas, espátulas
turquesa, talhadeiras, ponteiras, chaves inglesas,
parafusos, furadeiras, colas de madeira, colas de metal
entre outros tipos de cola, lixas, sprays de tinta
tantas coisas mais a compor uma oficina para tal fim
E mesmo dos lixos da cidade por vezes
aproveitava coisas ali descartadas
e ia lá se servir de materiais que pudessem servir bem ao seu intento
alumínio ou qualquer outro metal, plástico rígido, borracha, tudo

E enfim começou a trabalhar na sua obra
geralmente levando o dia todo
e por vezes entrando pela noite até altas horas
onde ali mesmo por vezes acabava por dormir
numa cama improvisada ali mesmo naquele galpão
Por vezes trabalhava durante a noite, quando só se percebia a luz acesa
e o leve ruído de um maquinário ou outro

José Alegório vivia compenetrado, concentrado totalmente
no seu projeto de reproduzir a cidade sonhada num sonho
de outro sonho
trancava o galpão da oficina a sete chaves
com cadeados de segredo e tudo o mais
os seus estranharam José Alegório em sua atitude
e quando sua companheira lhe perguntava em que estava envolvido
o que estava aprontando
respondia que era segredo e que um dia no tempo certo iria mostrar
quando houvesse terminado o que houvera iniciado
e também pediu que não comentasse com ninguém da vizinhança
para não chamar a atenção e lhe tirassem a concentração
assim deixando todos os seus ansiosos e curiosos
afinal, que mistério era aquele ? Pensavam
e se aplicando em perfeccionismo
procurando ser fiel ao que vira, ao que sonhara
ficou enfim satisfeito com o resultado
foi quando mostrou enfim aquela cidade em miniatura
prédios suntuosos, de fantásticas arquiteturas, futurísticas
fachadas em dourados, prateados, brilhantes, multicores
suas ruas eram largas, planas ou inclinadas
mas de solo sempre perfeitamente liso
uma cidade reluzente, brilhante, quase ofuscante impactante
e transmitia uma aura de paz, como uma cidade celeste
sua companheira olhou-o longamente
interrogativamente como a perguntar de onde pôde tirara tal ideia
seus filhos admirados riam, fazendo gracejos
e apontando um ao outro detalhe um ou outro
da cidade ali representada
até praça com fonte luminosa tinha
uma grande área verde com cachoeira e lago
magnífica obra de arte a encantar e admirar olhares
a se perguntarem de onde alguém poderia tirar tal ideia tal inspiração
“Que incrível!” Era o comentário que mais se ouvia
Era uma cidade futurista ou de outro mundo

E José Alegório conseguira reproduzir a aura de paz
que da cidade se passava emanava
uma aura que transmitia harmonia
sugerindo que todos ali vivessem ali viveriam em fraternização

e a obra de José Alegório ganhou fama na sua região
tanta que até um periódico local o foi entrevistar
e lhe perguntado sobre qual mensagem
quis transmitir com a sua obra de arte

José Alegório ao repórter respondeu
que quer transmitir para as pessoas a mensagem
da necessidade e possibilidade de uma cidade
em que as pessoas possam conviver harmonicamente
com igualdade, respeito, solidariedade, alegria
uma possibilidade de convivência fraterna
essa é a mensagem de “A Cidade dos Sonhos “

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