Após a badalada festa, de lá Inocêncio saiu a andar
foi dar um rolê na cidade; tipo espairecer, o que ocorrer...
Tinha que chegar em casa numa manhã tudo bem, bem resolvido
pois que de fato lhe ficara algo nebuloso, mal definido
a festa para ele não acabara bem
numa fome, numa sede, num desejo, numa ânsia
no abalo de uma desilusão maior
Inocêncio mais do que tudo não conseguia esquecer a menina
que na festa conhecera e que com ele ficara
Inocêncio ficara por demais a ela afeiçoado
e ela lhe parecera estar no mesmo clima
lhe parecera que ela houvera colado na dele
Inocêncio, da festa a queria levar
mas na hora H se recusara a ir com Inocêncio...
Isso abalou sobremaneira o espírito de Inocêncio
lhe algo desconjuntou ; lhe algo espantou de surpresa
se logo já estavam íntimos como num motel
se na festa mesmo transaram
trocaram palavras carinhos, confissões de amor, carícias e gozos...
Inocêncio contava com levá-la para seus sonhos
e a festa acabou e Inocêncio ficou sozinho, a pensar...
E saiu andando pela cidade buscando se distrair ...
Com tão caras expectativas frustradas
de tudo o que esperava ser e rolar
e isso lhe houvera a mente desestruturado
lhe houvera abalado o espírito
e se recusava a seguir para casa naquele estado
ou esta não mais lhe seria um lar
sem aquela velha paz e tranquilidade
com a alma num tumultuo má acomodada
Daí que da festa saiu a andar pela cidade
até um amanhecer que o encontrasse restaurado
desses desajuntes da decepção de sua expectativa
quando até lá esperava assim pensando
se recompor a mente em trauma; se amainar o espírito estremecido
chegando em casa resolvido para o sono tranquilo
A Lua rebrilhava no escuro do céu, fascinante
entre as tantas estrelas a cintilar
Inocêncio a admirava contemplativo
A visão do céu noturno com seus luminares
lhe arrebatava a alma
e sua imaginação logo viajava solta pela imensidão afora
a imaginar tudo o que em sua mente poderia imaginar
a existir pelo Universo afora
Mas assim foi que Inocêncio depois da festa
saiu a dar um rolê pela cidade
sozinho, pensando, espairecendo, buscando entender
parecia que tudo ia rolar, e tudo deu pra trás
era Inocêncio a pensar
e pensando, pensando, saindo a dar um rolê
logo foi parar num botequim da cidade
e deu um bom tempo lá
e bebeu e fumou ainda mais
do que houvera na festa bebido e fumado
Era um botequim muvucado
e Inocêncio passou um bom tempo lá
absorvendo o impacto da sua desilusão
E entre prosas suaves, cantorias ao violão
recitais de poesia e discussões acaloradas
pois havia lá desde uns caras maneiros até outros mais da pesada
desde uns com a cabeça mais no lugar a outros doidos de pedra
Inocêncio viu brigas rolarem; sangue se derramar
Também teve quem corresse de briga amedrontado
Mas às vezes nem adianta muito fugir do atrito
com medo de se machucar ou de morrer
pois às vezes a porrada vem sem esperar
de supetão, na crocodilagem, no abafa, na pressão
que não dá nem tempo de correr
Mas ali Inocêncio conheceu umas tantas interessantes figuras da cidade
uns a tornarem-se novos amigos; outros, novas antipatias
Havia lá também uns tantos sonhadores de amor e de guerra
idealistas de todas as linhas
políticos, desde o mais à esquerda ao mais à direita
artistas, filósofos, poetas, profetas, romancistas, pintores
outros tantos tipos de artistas, intelectuais, ativistas e tais
E ali estava Inocêncio após a festa
naquele ambiente relax, de curtição
mas às vezes de tensão, de explosão
o que fazia o ambiente em suspense, em receio
Mas ainda nesse bar, Inocêncio tanto falou, tanto ouviu
tanto cantou à capela e ao violão
recitou poemas e até escreveu versos no bar
entre artes outras que aprontou
No final da badalada festa, Inocêncio saiu de lá a dar um rolê pela cidade
para espairecer, para absorver, para se resolver, por um refeito amanhecer
tomado que estava
da frustação de uma cara expectativa
Daí que se foi Inocêncio dar um rolê pela cidade, como um andarilho urbano
e deu um bom tempo na porta dum bar
frustrado por tudo o que deveria rolar
sentindo a falta da menina com quem ficara na badalada festa
e volta e meia lhe vinha na mente sua imagem
trazendo-lhe na fresca memória sua lembrança tão forte
que chegava mesmo a ouvir até sua voz tão femininamente suave e sensual
e até sentia seu perfume agradável e envolvente
e já a tinha em seu coração
Tão bom foi ter na festa com ela ficado.... Pensava
porém sentia mais por ela não ter com ele se ido
ao seu pedido
Às vezes pensando, lembrando, até entendia
que a menina que na festa com ele ficara
até lhe dera um pouco do seu amor, um pouco de si
mas Inocêncio queria dela bem mais, muito mais
ela lhe dera um dedo e ele lhe queria todo o corpo
E Inocêncio daria agora até um dedo por ela
Ela lhe houvera dado um tanto do seu tempo
mas Inocêncio queria dela toda a vida, até a morte
E agora Inocêncio por ela jogava a vida
E todos ali no ambiente da festa
mesmo os que não estavam na festa
viam como Inocêncio estava já a ela ligado
pelo seu comportamento com ela
d’um modo que era todo carinho e cuidado
pelo seu olhar para ela, que nem se ligava em disfarçar
E Inocêncio botava a maior fé de que ela estava na dele
Inocêncio estava a se achar o cara; o felizardo do coração da bela mina
vivendo seu grande amor; seu romance promissor
estava no namoro que pediu a Deus, só no bem bom pensava
e tudo o que lhe ia no sentimento
Inocêncio lhe confidenciava com transparência
Inocêncio transbordava de amor pela menina com quem ficara na festa
e que houvera já invadido seu ser romântico sentimental
era um sentimento muito forte, já em si sedimentado
dominando já toda sua emoção
e já ninguém podia dela aproximar-se
vê-la com alguém já fazia Inocêncio sentir-se em alvoroço
e já não conseguia segurar seu ciúme em ajuizado senso
e passou a protagonizar cenas de chamar geral a atenção
e todos sabiam que Inocêncio por ela
já se houvera arriado os quatro pneus e o estepe
já não se segurava, cheio que estava de sentimentos e expectativas
que já se transtornava; se alterava
com seu discurso inflamado já lá pelo final da festa
também já tava cheio de fumo e vinho
Inocêncio houvera desenvolvido forte senso de possessividade
em relação à menina que com ele ficara na festa
e por ela sentia aquele tanto
porém ela se recusara a seguir com Inocêncio
e agora Inocêncio a levava viva em seus pensamentos
ela se fazia da mais forte presença em sua mente
Andando pela cidade desde a badalada festa
e levando nos pensamentos como um incômodo mal resolvido
a menina que com ele ficara na badalada festa
e que decepcionantemente se recusara a seguir com ele desde a festa
a simbolizar toda uma expectativa do seu desejo frustrado
andando, pensando, buscando entender
Inocêncio às vezes imaginava de repente ela aparecer em sua frente
a lhe dizer que pensara melhor e decidira seguir com ele
e ficava tão feliz só de imaginar o acontecimento
que por momentos se resolvia sua angústia, sua aflição, seu atantaramento
Mas esse imaginar era só um sonho acordado do Inocêncio
A lembrança da mina que ficara com ele na festa
e que se recusara a se ir da festa com ele era forte, total
o cheiro perfumado do seu corpo perfeito e gostoso
a pele suave e macia
era uma maçã bela, viçosa, suculenta, deliciosa
sua boca tão docemente podia ainda sentir
nos tão sensuais beijos molhados que trocaram
Não foi à toa que Inocêncio se fixara a ela tão rapidamente
só o momento de uma festa e ela já lhe houvera tomado o espírito
e ele se apaixonara
Bem que Inocêncio às vezes se sentia inseguro quanto a ela ter de fato
pois às vezes lhe parecia que ela correspondia ao seu amor
às vezes parecia que o amava
pelo como às vezes o pegava; pelo como às vezes lhe falava
mas às vezes lhe parecia que ela já não estava lá bem na dele
mas só ficou certo mesmo disso quando quase no fim da festa
a convidou para se ir da festa com ele e ela se recusou
aí então desenganou-se o Inocêncio
que nesse momento viu que era mesmo o fim que estava como um mau presságio a imaginar
o fim de ter esperança de tê-la pra si
e era a decepção de tudo o que havia então sonhado rolar...
Inocêncio não se segurava na boa de que tudo desse assim pra trás
ficou meio sem chão e após a festa saiu de lá a andar
pela cidade a pensar, à procura de se resolver do revés
para a cabeça chegar a bom termo, pois ficara balançada, deslocada, confusa
não dava pra chegar em casa e ficar num lar assim
pois não seria um lar com essa sua agonia
também para Inocêncio a festa já havia mixado mesmo
já era hora mesmo de se ir
a menina que com ele ficara, a seguir com ele se recusara
a essa altura
Já todos ali na festa já percebiam
que Inocêncio estava já sozinho
e não conseguia disfarçar sua contrariedade
Inocêncio havia já se desencantado com a mina e estava com uma feição contrariada
pior que a música zoeira baixo-astral de fim de festa já agitava bem alto
e sob a música baixo-astral fim de festa a zoar
uns e outros começaram a indiretar Inocêncio
botando pilha na sua contrariedade e desilusão
direcionando-lhe a música feia baixo-astral de fim de festa
para lhe dar nos nervos, já tão à flor da pele pela desilusão total
e Inocêncio que também já tava cheio de álcool e fumo
na sua mente mais fragilizada sem a mina
psicologicamente enfraquecido
acabou comendo pilhas que uns e outros botaram
e Inocêncio sem poder se segurar, se entregou ao descontrole
chamando já a atenção geral na festa
escandalosamente, e fazendo palhaçadas mil; micos tantos
A mina que ficara com Inocêncio na badalada festa
e que já não estava mais com ele
desde que se recusara a se ir da festa com ele
tornara-se um problema; um entrave para Inocêncio
ou seja, a sua falta, a sua recusa
se ela ainda ficasse com Inocêncio
Inocêncio nem se importaria tanto com a música baixo-astral a zoar no final da festa
ainda que uns abusados da festa
a quisessem direcioná-la para Inocêncio
mas já sem o seu amor
que o fazia se sentir um tal na festa
mas não tinha como Inocêncio não se deixar abalar
pelo abuso de uns tais
comendo a pilha daquela galera
que lhe direcionava a música baixo-astral de fim de festa
para sua mente abalada, psicologicamente fragilizada
pela perda da ilusão do amor da mina que com ele ficara na festa
e de tudo o mais que esperava rolar; tudo com que contava que ia ser
O fato é que aquela música feia baixo-astral anunciava o fim da festa
anunciava que cada qual devia já ir levantando sua tenda para se mandar
o cara que fazia as honras da casa, o mestre de cerimônias
parecia ser um cara decente, instruído, descolado
mandara muito som legal
e se tava mandando agora aquela música feia e baixo-astral
então é que estava comunicando o final da festa
estava a fim de zoar também; já tava cheio, cheíssimo
de fumo e de vinho; tava todo mundo cheio
e Inocêncio houvera demais se apegado à menina que na festa com ele ficara
houvera se apegado firmemente
e ela se negara a se ir da festa com ele
agora só ficara aquela música baixo-astral a zoar
e uma gente a reverberar; querendo direcioná-la para Inocêncio
e Inocêncio já se descabelava sem a mina que com ele ficara na festa
e aquela música baixo-astral a zoar
parecia que agora ficaria tocando repetidamente
tocando repetidamente até a moçada da festa se dispersar
parecia mesmo uma música feita para o fim daquela festa
e mesmo de outras festas assim acontecendo
a música feia baixo-astral de zoar era para mandar embora a galera
certamente que anunciava mesmo o fim da festa
pois aquela música feia e destoante era mesmo para desanimar
para tirar a graça da festa porque era já seu fim
e a música feia e baixo-astral que tocava repetidamente
já houvera tirado a graça da festa
só alguns que ainda forjavam se divertir ainda
levando a música na esculhambação, risadarias e galhofas
também já estavam todos cheios de fumo e vinho
Inocêncio seguia andando caminhando pela cidade
com seus pensamentos animados chutando latas
e logo pensava nela e lhe vinha a música feia e baixo-astral do fim da festa
e depois vinha a lembrança dela; a lembrança de tudo que imaginou que rolaria e não rolou
aí vinha a lembrança dela, aí vinha a da música a zoar
a do mestre de cerimônias já cheio
a de outros tantos da festa já cheios gritando, rindo, pilheriando, zoando
e vinha a lembrança da música e vinha a lembrança dela
e vinha a lembrança do mestre de cerimônias cheio
e vinha a lembrança da música feia, baixo-astral de fim de festa a zoar
e vinha a lembrança de todos na festa cheios a gargalhar; e vinha a lembrança dela
E assim seguia Inocêncio sozinho andando pela cidade
desde a festa, olhando pro céu, admirando a Lua; esperando o Sol
e que este o encontrasse resolvido para chegar no lar para seu sono tranquilo
Inocêncio da badalada festa saiu a andar
dando um rolê pela cidade para espairecer
e após uns tantos passos chegou num bar
e no bar foi que deu um bom tempo pensando
Mas Inocêncio também não foi só para o bar
também foi para a beira do mar
o mar estava revolto e barulhento
e ficou na beira do mar a contemplar e pensar
e pensou tanta coisa quanto sua imaginação permitiu pensar
na sua contemplação do mar
Assim foi que deu um bom tempo na beira do mar
pensando, contemplando, admirando o mar
Inocêncio tinha sonho, tinha objetivo; mas ficou tudo difícil para Inocêncio
Mas, por mais que houvesse ficado tudo o mais complicado
o mais distante, o mais arriscado e desafiante
iria encarar decidido com a cabeça erguida
levantada, retomando o foco
e tanto que passasse em função disso até mais gana
até mais razão lhe daria para seguir no objetivo se acumularia para querer
Inocêncio na mente já esboçava tênues traços de um plano de ação para se soerguer dessa sua desdita
era plano de um objetivo um tanto obscuro e impreciso
e iria exigir muita disposição força, coragem e alguma sorte
e que certamente não seria fácil de conseguir
mas tropeços que desse, com eles aprenderia
buraco em que caísse, dele altivo se elevaria
adversidade que se fizesse, tenazmente enfrentaria
breu que o envolvesse, buscaria a luz da iluminação ver
e sua velha fé em Deus haveria de lhe valer algo
Inocêncio no seu rolê pela cidade
passou no bar onde deu um bom tempo se dando
passou na beira do mar onde deu um bom tempo pensando e contemplando
passou ainda em tantos lugares mais
lugares que já conhecia; lugares que ainda não conhecia
passou em lugares onde morou
entrou e saiu em becos e vielas
conheceu de perto monumentos da cidade
lendo as referências; alusões a décadas, a séculos passados
personalidades históricas, bélicas, políticas
representam fatos relevantes da história da cidade
como fantasmas a exalar de si o tempo e contexto de suas vidas
demandadas no aspecto pelo qual ali se faz representado
Inocêncio se inteirava mais um pouco de passados acontecimentos da sua velha cidade
Mas Inocêncio seguia madrugada adentro desde a festa em rolê pela cidade
e as vozes que se fizeram em galhofaria no final da festa
ouvia ainda em certos momentos que assim se faziam de agonia
ressoando dentro da sua mente; do seu sistema nervoso central
junto com a música feia e baixo-astral do final da festa
e vinham a ressoar na sua cabeça como enxames a zoar
jurava que ouvia vozes de presentes na festa
e até mesmo vozes de cantores cujas músicas se ouviu na festa
e tudo num vozerio infernal, era como uma tortura
Inocêncio tava ficando era mais e mais noiado
Inocêncio estava às voltas da loucura, que só Deus
E foi tanto rolê que Inocêncio já houvera pela cidade
que esta lhe foi ficando pequena
e sentia falta da menina que ficara com ele na festa
sentia falta dela mais do que imaginava que iria sentir
e ficava ainda mais aperreado quando pensava no que pensara que iria ser
quando pensava em não ter conseguido fazer ser
como só desejava que fosse a festa; e o que se faria da festa
e da festa saiu e ficou jogado pela madrugada
é normal gostar, querer e não ser querido; é normal jogar e perder
é normal então ficar por alguém balançado
se sentindo desconjuntado, alquebrado, quebrantado
Andando em seu rolê pela cidade
Inocêncio lembra de quando conheceu Solina
a moça com quem ficara na badalada festa
Inocêncio ficou fascinado por Solina desde que a viu, de cara
admirado com sua beleza seus olhos tão negros,
seu cabelo igualmente negro, liso e grosso
seu corpo de estatura transbordante de sensualidade
sua pele morena perfumadamente feminina
Inocêncio ficou fascinado por Solina logo que a viu
naquele grupo maneiro na festa; e logo já lhe dava beijinhos na boca
e logo já a desejava ardentemente, numa tara incontrolável, incontida
e logo Solina já lhe houvera invadido a mente, os pensamentos
e logo Solina lhe invadiria o coração, o sentimento
e logo Solina lhe invadiria a alma, todo o seu ser
e logo Inocêncio se apegaria a Solina muito mais
do que a princípio imaginara que se apegaria
e só a ela queria, fixadamente; obcecadamente
Mas o que havia em Solina que em Inocêncio teve esse efeito devastador?
Teria sonhado alguma vez antes com ela ?
Será que a conhecera de outra encarnação ?
- E existe outra encarnação ?- Inocêncio pensava
e que mistério é esse de então se balançar
por outra de quem não consegue se desvencilhar nem no pensamento
de se apegar a alguém só pelo tão pouco tempo de uma festa
só pelo pouco tempo de uma festa, se apegar assim...
Será coisas do espírito? Será feitiço?
Inocêncio muito pensava em Solina e tentava saber o porquê da sua recusa
em se ir da festa com ele, já que estavam tão bem harmonizados na relação, à vista de todos
e tanto conversaram no tempo em que ficaram juntos na festa
conversaram coisas de magia, de natureza, até de política
ela sempre lhe pareceu correspondente; o que houve então ?
Será porque não tem um daqueles carros possantes que na festa fulguravam ?
Será porque não tem um daqueles apartamentos
em condomínio luxuoso de frente para o mar ?
Seria algo assim ? Porque ele nada é, nada tem ?
Mas não achava que era isso, afinal! A mina não fazia esse tipo
ou pelo menos não parecia fazer
certamente que encheu o saco dele com seus cuidados de bobinho apaixonado
curtiu um tanto dele e se saiu saciada
não, não era porque ele não tinha nada
não era porque ele não era nada
ela é que não tava a fim de ninguém
ou ela tá a fim de alguém
Mas não foi por Inocêncio não ter nada
mas não foi por Inocêncio não ser nada
Mas Inocêncio cresceu na ideia de se tornar alguém
Inocêncio pensava no seu sonho, no seu objetivo
e achava que seu sonho o fazia crer com otimismo no seu objetivo
o seu sonho o poderia fazer grande, desde se fizesse o sonho
Inocêncio pensava que procuraria ser grande, importante; andando pensava
Se pudesse faria qualquer pinoia para ser grande;
se pudesse apareceria voando na frente dela para chamar a sua atenção
mas como fazer isso ?
Se pudesse soltaria o mais alto grito ; como alguém jamais o fez
talvez se destacasse gritando um eureca qualquer
que Deus lhe mandasse uma força sobrenatural
que lhe fizesse mais forte
que aquele todo sentimento de perda
Inocêncio gostou da ideia de ser grande
de se projetar no mundo para que Solina soubesse
da sua presença influente no mundo
que não era qualquer um como pensara
para recusá-lo como o fez na festa
Inocêncio tinha sonho;
independentemente de Solina, tinha sonho
ainda que tivesse de derrubar uma estrela
Inocêncio gostava de viajar na ideia de ser alguém
tinha sonho e poderia vir a ser um sonhador bem sucedido
desde que soubesse fazer por onde ser um sonhador bem sucedido
nem que tivesse que invocar ETs em seus OVNIS
nem que com almas do outro mundo tivesse de contatar
ou alguma alma mais especial
mas faria de tudo para se impor ante Solina
pensava, no seu espírito mexido decidido
quem sabe estamparia seu nome completo
projetado em grande letreiro de neon:
INOCÊNCIO DE JESUS
No rolê que dava pela cidade
uma noite Inocêncio vira uma estrela cair
e ficou atônito, estonteado, estupefato, admirado
de onde aquela estrela lhe fora cair...
Mas seguindo nas suas andanças e pensamentos
Inocêncio levava a mina com ele; na sua alma
tanto queria que ela fosse com ele; que o acompanhasse
o quanto ainda a queria; estar com ela a sós
e a amar e muito mais ainda lhe falar do seu amor
se ela tivesse querido se ir com ele da festa
– Inocêncio pensava - logo já estariam dormindo; abraçadinhos
o que seria só mais uma das milhares e tantas
noites de amor que com ela sonhava
pensava pelo seu desejo...
Mas não conseguira levá-la para seu sonho
e para tudo o mais que deveria rolar
não conseguira fazer a sequência de felicidade que acalentou
o portal que vislumbrava se fechou; sumiu
Desde o fim da badalada festa
desde quando já tocava aquela música feia baixo-astral de fim de festa
Inocêncio saiu a dar um role pela cidade para espairecer
do desconcerto em que se ficou seu espírito conturbado
por incidentes que lhe acometeram na badalada festa
pois não poderia chegar em casa daquele jeito
levando pra casa toda aquela perturbação que se instalara então no seu âmago
ou sua casa já não lhe seria mais um lar, sem aquela paz e tranquilidade
Inocêncio sentia-se algo partido dentro de si; um fundo trauma
Inocêncio sentia-se com a razão em empenação
Inocêncio caminhava no seu rolê pela cidade, pensando, ponderando, buscando entender...
As cenas do final da festa eram as mais intensas na mente inerme de Inocêncio
o pessoal fazendo algazarra com a música feia baixo-astral do final da festa
e cantando aquela música a repetiam a reverberar e caiam nas gargalhadas
todos já cheios de fumo e de vinho
o espírito de esculhambação baixou numa galera lá pelo final da festa ; pra variar
No fim da festa cantavam a música feia e baixo-astral de esculhambação
e alto gargalhavam em sonora risadaria
mas Inocêncio sem mais com a mina que com ele ficara na festa
não escondia seu ar de contrariedade pela recusa de Solina
e tomava a esculhambação que aquela galera fazia cantarolando alto a música feia baixo-astral de fim de festa
quase como uma ofensa a si; a sua contrariedade
sentia soar aquela cantoria esculhambada
da música baixo-astral de fim de festa
como uma indireta para si; para lhe sacanear
porque o estavam vendo sozinho e contrariado, após a recusa de Solina
depois de ter tirado sua ondinha de cara tal
desfilando sua felicidade de mãos dadas
abusando de quem não tem a felicidade de viver um grande amor feliz; de quem não tem a felicidade dessa sorte
agora estava na festa sozinho e contrariado
Algumas meninas na festa e mesmo que não estavam na festa gostavam do jeito de Inocêncio
e por Inocêncio tinham carinho
algumas até demonstraram interesse por Inocêncio
mas Inocêncio na festa só tinha olhos para Solina
isso até quem nem estava na festa percebia
e algumas dessas meninas
vendo Inocêncio sozinho na festa
vendo que já não estava mais com aquela com quem desfilava de mãozinhas dadas pela festa
pois houvera sido descartado pela menina com quem ficara na festa
se aproximaram de Inocêncio interessadas
e Inocêncio com o coração sentindo-se machucado
numa rusga da mina, que no momento acabava por se estender a outras
acabou por maltratá-las, atingindo-as em seu orgulho feminino
Inocêncio ficou algo mais cascudo, endurecido
Inocêncio pensando agora em seu role sentia muito por isso
pois aquelas não mereciam como Inocêncio as tratou
mas elas haveriam de entender que foi coisa do seu coração machucado de amor
mas no fundo Inocêncio estava era chateado com a recusa de Solina
e sua chateação se estendia naquele momento às outras
tinha se fixado de tal forma a Solina
que não tinha mais ninguém que naquele momento
pudesse ocupar seu coração
onde Solina houvera entrado e ocupado todo espaço
Certamente também que Inocêncio não agradava a todos
alguns o censuravam por seus modos, seu jeito de ser
e talvez tenha sido mesmo muito rude e indelicado com umas meninas na festa; e mesmo com algumas que não estavam na festa
mas haveriam de entender que era por sua mágoa de amor; não nada pessoal
Solina era mais do que uma simples decepção amorosa
era o acúmulo de mais uma decepção amorosa
que o fazia reviver mais intensamente traumas de decepções amorosas passadas
pois já tinha sofrido decepções amorosas marcantes, profundas
Solina era mais uma com quem ficara com um pé atrás quando viu que seu sentimento se inclinava para ela sem pensar
e quando rolou a decepção da sua recusa ficou chateado acumuladamente
e a sua chateação com Solina neste momento se estendia às meninas que não estavam então em boa conta no humor de Inocêncio
mas claro que não mereciam o modo como foram tratadas por Inocêncio
ao chegarem-se para ele após vê-lo sozinho depois de ter
exalado felicidades por estar acompanhado da sua mina na festa
mas claro que não mereciam ser tratadas com rudeza por Inocêncio
principalmente Luana, que era linda, meiga e o tratava com todo seu doce carinho
se pudesse se desculparia com ela
o que fazer, se cada qual é como é...
E lá se ia Inocêncio no seu rolê pela cidade desde a festa
em que fora recusado por sua amada,
pensando, tentando entender, esquecer, sobrelevar
e assim foi que caiu uma chuva daquelas sobre si
e Inocêncio apanhando toda aquela chuva
que até parecia lhe anestesiar o sofrimento
e até lhe parecia clarear os pensamentos
algumas gotas lhe batiam forte
Mas a festa em si foi muito boa, claro
gente bonita, bons petiscos, boas bebidas, bons fumos
até umas horas
boas músicas; boa iluminação; bons papos, tanto mais
para Inocêncio foi uma festa de arromba, sem dúvida
mas agora cada um teria que voltar para sua vida , sua realidade
que é bem diferente de festa
com suas problemáticas, suas demandas
A festa foi boa para Inocêncio até umas horas
porque depois que Solina se recusou a se ir com ele
não mais era a mesma festa para Inocêncio
apesar da animação da pessoas na festa
dos bate-papos animados, dos risos de alegria
das trocas de selinhos e abraços
a recusa de Solina havia esfriado o coração de Inocêncio
e depois que começaram a tocar a música feia e baixo-astral
aquela música feia e baixo-astral de fim de festa
e pior que uns lhe começaram a zoar lhe direcionando
a música feia e baixo-astral, como uma indireta
só pra lhe sacanear mais do que já se sentia sacaneado
mais do que já se sentia pela falta de Solina
Certamente que esses uns estavam felizes com a contrariedade de Inocêncio
por Solina não ter querido com ele seguir
certamente estavam felizes com a infelicidade de Inocêncio
certamente já torciam para o fracasso do seu romance
pois de passagem próximo àqueles, ouviu alguém comentar
de modo a que viesse a escutar
que o “ ... sem vergonha num instante se apaixonou ... “
e assim definitivamente a festa já não tava mais legal
era mesmo hora de zarpar
de sair no rolê para espairecer; ver o que fazer
E assim foi que saiu a dar seu rolê pela cidade
saiu andando da festa lá seu tanto macambúzio
a andar para espairecer, arejar a mente, se recompor quem sabe
nem se despediu do anfitrião, do mestre de cerimônias
nem se despediu de ninguém na festa...
Inocêncio já houvera dado um rolê e tanto na cidade
já houvera andado quase os quatro cantos da cidade
que a cidade já lhe ficava pequena
e acabou se indo por um portal da cidade
E assim foi que Inocêncio tomou a saída da cidade
e já se então pela estrada que era chegada e saída da cidade
e longe, lá longe, tendo tanto mais caminhado
e outros tantos lances vivenciado
nasceu lá bem longe então pra ele finalmente o seu Sol
longe, longe, bem lá longe foi que lhe nasceu esse Sol
quando assim já se fazendo compreendido e se tendo assim se resolvido
nasceu esse seu Sol lhe fazendo até sentir-se em outra dimensão
com a alma leve; a cabeça serena; em paz e tranquilidade
toda nebulosidade tendo se dissipado pela clara compreensão
e voltou a dormir seu sono mais tranquilo
na sua casa; seu lar
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